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Doze anotações nos 80 anos de Álvaro Siza . Siza Vieira: 80 anos de vida e 60 de profissão
29.06.2013

01 Por mais voltas que lhe demos, a nossa cultura nunca deixará de ser platónica no sentido em que, para nós, conhecer significa recordar-se. E, portanto, toda a vida é um processo de reconstrução. Siza gosta de dizer que, em arquitectura, ninguém inventa nada. É uma outra forma de dizer o mesmo.

02 Não sei muito sobre História mas suspeito que nunca, como hoje, se falou tanto na diferença e nunca tudo foi tão igual. Até na arquitectura. Querer obsessivamente ‘marcar a diferença’ representa, em geral, o caminho mais curto para a repetição.

03 A diferença entre a boa arquitectura e a má ou assim-assim é que a boa arquitectura copia sem repetir e a ‘outra’ repete ao copiar.

04 Tudo começa nos olhos. Siza costuma falar na necessidade de aprender a olhar. E na importância de viajar. A arquitectura educa o olhar e educa-se no olhar. Só quando se olha muito e bem se começa a vislumbrar o essencial. Sempre Platão…

05 Recordo-me das visitas de Siza à igreja do Marco durante a construção. Mal chegava, olhava. Percorria a obra, sozinho, e olhava. Às vezes media com as mãos. Depois de olhar, pausadamente, e de medir com as mãos, reunia a equipa: colaboradores do gabinete, técnicos das especialidades, encarregado geral, fornecedores, dono da obra.

06 Ao longo do processo, Siza foi-se descosendo: ‘Fui visitar La Tourette’, ‘fui visitar o convento de Barragán’, ‘fui visitar a capela de Vence’, ‘fui visitar uma igreja no sul de Itália’. E quantas outras não terá visitado ao longo do processo e da vida!

07 ‘Numa delas – disse-me, mas já não me recordo em qual. Ou se não me disse, sonhei – entrei e ajoelhei-me. Não podia fazer outra coisa’. Eu compreendo, Siza.

08 Nunca me apercebi se alguma vez, ao entrar na ‘sua’ igreja, caiu de joelhos, por não poder fazer outra coisa. Estou convencido que se o fez, fê-lo discretamente. E se não o fez, foi por modéstia.

09 Poucos dias depois da inauguração (ou sagração, como preferem dizer os peso-pesados do sagrado) Siza entrou e começou a percorrer o espaço, como sempre fazia. Acendeu um cigarro. Com o primeiro fumo atravessado na garganta, saiu na direcção da porta e deitou o cigarro fora. ‘Esqueci-me que agora já não se pode fumar aqui!’

10 Eu sorri. Não faço ideia do que lhe respondi, se é que respondi alguma coisa. Hoje, ao recordar o episódio, ocorre-me o poema ‘Irene entrando no céu’, de Manuel Bandeira: ‘entra, Irene, você não precisa pedir licença’.

11 Siza nunca explicava tudo, o que, não raras vezes, era um grande incómodo porque obrigava a pensar. E não era por não saber. Ou seria. Eu julgo que ele não explicava tudo por respeitar a inteligência das pessoas.

12 A virtude do mestre é ditar o silêncio. Ditá-lo como se dita um texto a quem está a aprender a escrever. Com todas as pausas necessárias.

Nuno Higino


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