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Nuno Teotónio Pereira (1922 - 2016)
20.01.2016
A Ordem dos Arquitectos comunica com pesar o falecimento do Arquitecto Nuno Teotónio Pereira.

A OA encontra-se em contacto directo com a família e disponibiliza-se a fazer chegar a esta todas as mensagens de amigos, colaboradores, ex-alunos, colegas, entre outros. Para tal utilize o email dp@ordemdosarquitectos.pt




Nuno Teotónio Pereira

A herança de um grande homem e de um grande moderno.

Homem, Arquitecto, Cidadão e Lisboeta, defendeu tanto a arquitetura como todas as outras causas que abraçou, até às suas últimas consequências.

A sua vida e a sua obra enriquecem e enobrecem tanto a história da arquitectura portuguesa, como a história de Portugal.

Escolheu o lado difícil da vida, desde logo o de ser arquitecto, e tudo o que fez, fê-lo com coragem, com paixão, com devoção, com saber, com inteligência, com amizade e com uma enorme e quase única disponibilidade para partilhar o trabalho - a arquitectura - com os amigos e arquitectos.

A sua existência foi no mais belo sentido exemplar, quer no modo como viveu, quer no modo como exerceu a sua profissão, deixando-nos com uma profunda saudade das coisas boas a que nos habituou.

Recentemente, enquanto presidente da Ordem dos Arquitectos, tive o enorme prazer e o privilégio de poder partilhar com o Nuno Teotónio Pereira algumas das causas da Ordem e dos arquitectos, e em todas os arquitectos contaram sempre e até ao fim, com a sua disponibilidade e atenção.

Procurou-me algumas vezes, porque mesmo afastado da arquitectura, ou melhor apenas do desenho e do projecto, esteve sempre próximo, atento e preocupado com todos nós, os arquitectos, propondo e dando sugestões e pistas para abrir caminhos que pudessem contribuir para alterar o estado das coisas e da arquitectura em Portugal.

No final de 2015 recebeu o Prémio Universidade de Lisboa, pelo muito que nos ensinou e pelo exemplo que constituirá sempre para todos.

Obrigado Nuno por ter escolhido esse percurso com maiores adversidades, e precisamente por isso, obrigado também por tudo o que nos deixou, cabe-nos a grande tarefa de honrar, cuidar, acarinhar e divulgar a sua tão especial herança.


João Santa-Rita
Bruxelas, 21 de Janeiro


Nuno Teotónio Pereira,
para sempre.



Há dias que não deviam existir. Como aqueles que roubam os amigos para sempre, sem mais. E há horas em que as palavras falham. Porque nunca são as mais certas, porque escondem a emoção e as lágrimas, porque faltam diante da perda terrível. É assim com Nuno Teotónio Pereira.

Não quero repetir-me ao dizê-lo um dos mais importantes arquitetos portugueses dos últimos 50 e mais anos, sabendo-o indissociável da própria história da nossa arquitetura, entre tantas obras que iluminam o nosso fazer.
Nem como uma das mais destacadas personalidades da arquitectura portuguesa, desde o tempo em que, ainda estudante, insurgia-se contra a falta de autenticidade na criação arquitetónica ou quando aventurava publicar, logo em 1944, a primeira tradução da famosa Carta de Atenas. Ou ainda, quando, no mítico Congresso Nacional de Arquitectura de 1948, fazia uma comunicação sobre a Habitação Económica e Reajustamento Social, protagonizando o urgente compromisso da arquitectura e dos arquitetos com os seus concidadãos.
Não quero falar sequer do importantíssimo papel que desempenhou nas sucessivas associações profissionais de arquitetos, pugnando por melhores condições para a profissão em Portugal, sempre, sempre presente em todos os momentos cruciais da vida associativa e coletiva.

Quero, isso sim, falar da pessoa. Do homem grande que soube Ser Humano. Daquele que abdicou do Eu no Nós, tantas vezes tão inconformado quanto generoso em constantes exemplos cívicos e de cidadania, sempre na primeira linha do combate.
Quero dar testemunho desta sua postura permanente e exemplar de querer servir e de querer fazer melhor. Na incansável procura por uma sociedade mais justa, mais digna e mais fraterna, em que todos nascem livres e iguais. Discernindo combates e compromissos. Assumindo todos os riscos, todos os erros, todas as virtudes. Entregando-se às causas públicas sem nada esperar em troca. E estendendo a mão, nos piores e melhores momentos, a amigos e adversários.

Recordo Sophia. Nuno Teotónio Pereira ajudou-nos a procurar reconstruir o mundo, saciando a nossa fome do terrestre, e tentando a forma justa de uma cidade humana que fosse fiel à perfeição do universo.
Não, não quero prestar-lhe homenagem por ter partido, mas por ter vivido entre nós. Por continuar vivo connosco. Para Sempre.


João Belo Rodeia
20 Janeiro 2016



Tive o privilégio de conviver com o Nuno Teotónio Pereira durante mais de 25 anos e de descobrir o arquitecto que mudou a arquitectura portuguesa. Mas também de desvendar o homem generoso, justo e desassombrado que se bateu pelas causas sociais. Construímos uma amizade intensa, solidária, feita de lealdade e admiração. Em 2005, quando o Nuno me convidou para ser madrinha do seu doutoramento honoris causa, lembro-me de ter começado o discurso de homenagem dizendo que o que mais impressiona, na arquitectura e na vida, é a sua honestidade e busca permanente de verdade. Porque são os conceitos e não as formas que estão na base da sua reflexão e prática arquitectónica. Ao rigor e exigência disciplinar aliou uma capacidade crítica, original e polémica. A uma insaciável curiosidade intelectual aliou a vontade de intervenção, de quem acredita na possibilidade de um mundo melhor.
A contemporaneidade da sua obra é prova da resistência a modas e estilos.
Nuno Teotónio Pereira foi o militante do moderno contra o estilo “nacional” que, sem esquecer as raízes, procurou a verdade da construção. Acreditava na possibilidade de uma terceira via, pelo que foi capaz de manter um olhar crítico em relação ao dogmatismo do ideário moderno, batendo-se pela ponte com a arquitectura vernácula e pela urgência da reconciliação com a história e a memória. A sua obra confunde-se com o magistério do pedagogo porque à margem do academismo da escola de Lisboa, o seu atelier funcionou como uma escola de inovação e discussão. Pioneiro do trabalho de equipa, sempre disponível para arriscar novas soluções, o magistério sustentou-se na pesquisa do arquitecto, na disponibilidade do pensador, na tolerância do homem; cidadão de coragem, capaz de ser solidário e interveniente, de partilhar com os outros as suas grandes inquietações.
Para entender o seu percurso é preciso ter em conta o empenhamento nas causas sociais, a que acrescentou uma dimensão, vital, a de intervenção na sociedade. Com bom desenho e coragem bateu-se pela habitação para o “maior número”. Hoje, mais do que nunca, é o lutador inconformado que sabe que “a cidade é coisa colectiva”.
Nuno Teotónio Pereira é para nós um exemplo de coerência, rigor e tenacidade. Por isso a nossa responsabilidade é imensa para podermos ser dignos da exigência do seu magistério, do desassombro da sua inteligência, da generosidade da sua acção.
Nuno, obrigada pelos ensinamentos de todos estes anos, por nos ter ensinado a disciplina do rigor e da exigência, por ter partilhado connosco a sua vontade de um mundo melhor, por ter feito da sua vida um modelo de solidariedade e generosidade.

Ana Tostões



Nasceu em Lisboa em 1922.

1939
Escola de Belas Artes de Lisboa / um ano de frequência na Escola de Belas Artes do Porto.
1948
Participação no 1º Congresso Nacional de Arquitectura.

2003
Doutoramento Honoris Causa pela Universidade do Porto
2005
Doutoramento Honoris Causa pela Universidade de Lisboa
1950
Organizador do 1º inquérito realizado em Portugal sobre as condições de utilização de edifícios pluri-familiares (no âmbito de um curso da JUC / EBAL).
1951/57
Projectos de conjuntos habitacionais em Braga, Castelo Branco, Póvoa de Sta. Iria, Barcelos, Elvas, V. N. de Famalicão, Caramulo, Vila do Conde e Trancoso - estes dois últimos com a colaboração de Nuno Portas e Duarte Nuno Simões, respectivamente.
1952/65
Co-fundador, dirigente e presidente do Movimento de Renovação da Arte Religiosa.
1953/55
Projecto do bloco habitacional das Águas-Livres, em Lisboa, com a colaboração do Arq. Bartolomeu Costa Cabral - 2º Prémio Nacional de Arquitectura da Fundação Calouste Gulbenkian (1961); Classificado como Monumento Nacional (2012).
1956/58
Inquérito à Arquitectura Regional, promovido pelo Sindicato dos Arquitectos, que serviu de base ao livro “Arquitectura Popular em Portugal” - responsável pela equipa da Estremadura (António Pinto de Freitas e Francisco Silva Dias).

1959
Projectos de habitação social para Olivais-Norte, em parceria com Nuno Portas e A. Pinto de Freitas - Prémio Valmor (1968).
1960/62
Membro dos corpos sociais do Sindicato Nacional dos Arquitectos.

1961/72
Consultor da Federação de Caixas de Previdências - HE.
1962/70
1º Prémio e projecto no concurso público para a nova Igreja do S. Coração de Jesus (Lisboa), em parceria com Nuno Portas e colaboração de Vasco Lobo, Vítor Figueiredo, P. Vieira de Almeida e outros - Prémio Valmor (1975); Classificado como Monumento Nacional (2010)
1966/69
Participação nas eleições para o Sindicato dos Arquitectos - impedido de exercer funções pela PIDE.

1967
Convidado para assistente da ESBAL - impedido de exercer funções pela PIDE.
1974/75
Colaboração com o Núcleo Central do SAAL.
1985/89
Presidente do Conselho Directivo Nacional da Associação dos Arquitectos Portugueses.

1985
Prémio anual de Arquitectura da Secção Portuguesa da AICA.
1988
Presidente do Conselho das Organizações Nacionais de Arquitectos da CEE.
2010
Medalha Municipal de Mérito Grau Ouro - Câmara Municipal de Lisboa, atribuída pelo Presidente da Câmara Dr. António Costa.
2012
Prémio “Árvore da Vida” - Padre Manuel Antunes, atribuído pela Pastoral da Cultura.
2015
Prémio Universidade de Lisboa, por proposta da OA




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