A indicação do nome de Nuno Portas para ser distinguido neste Dia Nacional do Arquitecto foi das decisões mais fáceis das que até agora tive de tomar e, seguramente, das que geraram maior unanimidade.

Das mais fáceis porque desde sempre me pareceu perfeitamente óbvia a necessidade de distinguir a relevância da sua obra.

Mas, se alguma dúvida pudesse ter, a reação de todos a quem falei do assunto rapidamente as desfizeram.

Desde logo o Senhor Ministro, Dr. Luís Filipe Castro Mendes a quem numa conversa informal transmiti aquilo que então era uma intenção ainda não formalizada e que desde logo se disponibilizou para um apoio que nos permite hoje fazer esta cerimónia neste local.

Um apoio extensível a todos os meus colegas do Conselho Directivo Nacional com quem naturalmente partilho a responsabilidade desta decisão.

Um apoio que se estendeu a todos aqueles com quem falei em Portugal, mas também, no estrangeiro e que bem conhecem e reconhecem a importância do trabalho de Nuno Portas.

Quando no ano lectivo de 1969-70 entrei na ESBAL, Nuno Portas tinha já sido afastado da Escola depois de um curto período em que se acreditou ser possível trazer para a Escola de Lisboa alguns dos profissionais que trabalhavam na cidade.

Ainda estudante, conheci-o pouco tempo depois, no LNEC, numa das múltiplas reflexões que ali dinamizou sobre coordenação modular.

Na Escola, para nós estudantes, o seu nome era uma referência enquanto autor das primeiras propostas de estruturação de um pensamento e interpretação da evolução da arquitectura portuguesa do século XX.

Reflexões que ainda hoje, passadas mais de quatro décadas, são elemento obrigatório para qualquer abordagem que se faça sobre este assunto.

Reflexões que são de algum modo a consequência de uma actividade crítica a que sempre se dedicou, e de uma forma particularmente activa no que se refere à arquitectura, a partir da década de cinquenta.

Uma actividade que lhe permitiu ser a partir de 1956 um dos principais responsáveis pela profunda transformação da revista “Arquitectura” que a tornou de facto um veículo de divulgação e de reflexão sobre a arquitectura contemporânea portuguesa e de divulgação de muito do que lá fora se fazia.

Um veículo de divulgação que se apoiava nos múltiplos contactos que Nuno Portas mantinha com colegas estrangeiros, onde destaco os nomes de Oriol Bohigas, em Barcelona e de Vitorio Gregotti, em Milão.

Foi através deles que não só conhecemos muito do que por ali se passava, mas também foi possível divulgar o que aqui se fazia.

Passou por aqui a divulgação do trabalho dos arquitectos portugueses, ainda hoje responsável por muito do prestígio e do reconhecimento de que ainda usufruímos.

Por último, não posso deixar de referir a dimensão política do seu trabalho.

Uma dimensão rara entre os arquitectos, diga-se, mas que me parece ter, no seu caso uma consequência natural dos múltiplos aspectos que se reflectem nas diversas pesquisas teóricas desde sempre desenvolvidas.

Pesquisas que nunca se limitaram à disciplina da arquitectura, antes se prolongam numa prática profissional e numa intensa actividade docente onde as inquietações passam pelas áreas da história, da geografia ou da sociologia numa complementaridade onde plano e projecto se fundem na transdisciplinaridade de uma “Arquitectura para hoje” que para ele sempre passou por uma reflexão sobre ”a cidade como arquitectura”.

Esta talvez tenha sido uma apresentação feita em termos muito informais, mas penso que é também a melhor forma de justificar a nossa escolha da figura de Nuno Portas.

Foi, de facto, por todos estas razões que o Conselho Directivo Nacional da Ordem dos Arquitectos resolveu distinguir o Arquitecto Nuno Portas neste Dia Nacional do Arquitecto de 2017.




José Manuel Pedreirinho
Presidente