Prémio RIBA President’s Awards for Research 2013 para arquitecto e investigador português
O Royal Institute of British Architects (RIBA, órgão representativo da profissão arquitectónica no Reino Unido e internacionalmente) acaba de anunciar os vencedores dos prémios President’s Awards for Research 2013. Estes prémios reconhecem investigação de alta qualidade que represente um contributo excepcional para o conhecimento e entendimento da arquitectura, e encorajam a sua disseminação e incorporação no âmbito profissional mais alargado. Visando realçar a importância da investigação como incentivo à inovação e ao pensamento estratégico, pretendem destacar a actividade de arquitectos activamente envolvidos em investigação. Aos prémios RIBA, criados em 2006, candidatam-se membros do instituto, universidades do Reino Unido e universidades de todo o mundo com cursos validados pelo instituto.
O vencedor do prémio RIBA President’s Award for Outstanding PhD Thesis 2013, que distingue uma tese de doutoramento excepcional, foi atribuído ao arquitecto e historiador de arquitectura português Ricardo Agarez. A tese vencedora intitula-se ‘Regionalism, Modernism and Vernacular Tradition in the Architecture of Algarve, Portugal, 1925-1965’ e foi desenvolvida na Bartlett School of Architecture da University College London (UCL), sob a orientação do Prof. Adrian Forty e do Dr. Jan Birksted. Este ano, a UCL foi considerada a quarta melhor universidade do mundo (QS World University Rankings 2013/14), tendo a Bartlett obtido a classificação de melhor escola de arquitectura do Reino Unido (2013 Guardian’s League Table of Architecture Schools). Esta é a terceira vez que um aluno da Bartlett é distinguido com o prémio para tese de doutoramento excepcional: o primeiro galardoado, em 2008, foi o também arquitecto português Marcos Cruz, actualmente o director da escola londrina. Os prémios RIBA 2013 distinguiram também o orientador principal da tese de Ricardo Agarez, o Prof. Adrian Forty, na categoria de investigação excepcional baseada em universidades, pelo seu projecto e livro ‘Concrete and Culture, a Material History’ (Reaktion Books).
A tese ‘Regionalismo, Modernismo e Tradição Vernacular na Arquitectura do Algarve, Portugal, 1925-1965’, em História e Teoria da Arquitectura, investigada e escrita com o apoio da Fundação para a Ciência e a Tecnologia, analisa a contribuição das tradições locais, reais e imaginadas, para práticas e discursos construtivos modernos numa região especifica, utilizando o Algarve como caso de estudo. Ao transpor o foco da investigação do centro (Londres, Lisboa) para a região e ao dar ênfase especial ao trabalho de campo e a fontes primárias muito pouco exploradas (os arquivos de instituições regionais e municipais, de arquitectos e outros intervenientes no ambiente construído), a tese escrutina narrativas canónicas sobre a interacção entre duas correntes fundamentais do século XX: o regionalismo e o modernismo. O trabalho examina a forma como o ‘regionalismo’ arquitectónico, muito discutido em contextos centrais com base na obra de reconhecidos arquitectos metropolitanos, foi interpretado em práticas construtivas locais do quotidiano. Houve, afinal, uma preocupação verdadeira dos agentes locais com a utilização de tradições vernaculares como motivo de inspiração para a arquitectura, ou essa foi essencialmente uma ‘construção’ da intelligentsia metropolitana, tanto naquele tempo quanto hoje, em retrospectiva? Os circuitos e agentes de influência e disseminação são perseguidos, o papel de projectistas nacionais e locais é trazido à luz e uma visão mais completa da produção arquitectónica na região, durante as seis primeiras décadas do século passado, é oferecida. A criação de uma identidade construída para o Algarve surge como o resultado combinado de acções locais, regionais e centrais, mediadas tanto por práticas construtivas quanto por narrativas desenvolvidas fora do campo arquitectónico. O regionalismo do pós-guerra revela-se como mais do que a mera reapropriação sofisticada de traços ditos vernaculares por arquitectos cultos, com vista a superar as deficiências do modernismo internacional e do conservadorismo estilístico oficial: a tese mostra como as características tradicionais da construção algarvia permitiram que o modernismo se reformulasse como sensível aos requisitos locais mas mantivesse os seus princípios intactos, permitindo também que a relevância da profissão arquitectónica fosse reforçada num contexto largamente dominado por não-arquitectos. A tradição tornou-se a chave para o futuro da arquitectura moderna. O regionalismo, corrente subterrânea persistente na arquitectura do século XX, reemergiu e foi transformado pelo modernismo, em beneficio mútuo. No Algarve, a tradição vernacular e a acção local aparecem não como meras notas de rodapé na narrativa do modernismo arquitectónico, mas como parte do seu texto principal.
O júri dos prémios RIBA destacou o ‘impressionante nível de rigor’ de Ricardo Agarez, que ‘investigou todos os pedidos de licenciamento camarário e processos de construção’ em arquivos ‘relativos a um período de 40 anos, totalizando mais de 700 casos referenciados. A narrativa da tese regista o desenvolvimento das ideias do estudante e a sua maturação enquanto investigador, tornando a sua leitura cativante.’
Ricardo Agarez (Lisboa, 1972) é arquitecto e historiador da arquitectura especializado na história e teoria da arquitectura dos séculos XIX e XX. Colaborador do Sistema de Informação para o Património Arquitectónico SIPA como investigador e inventariador especializado (2003-2008), tem publicado em Portugal e fora sobre identidades nacionais e regionais, fenómenos de disseminação, formas de habitação colectiva e arquitectura pública. Em Portugal, destaca-se a obra ‘O Moderno Revisitado. Habitação Multifamiliar em Lisboa nos Anos 1950’ (Câmara Municipal de Lisboa, 2009).
Anúncio oficial dos prémios RIBA